Dia perfeito



Não se esqueçam também de viver.
Até amanhã!

Da estranha sensação de paz

E depois, por muitos dias imperfeitos que tenhamos para contar, por muitas feridas que o nosso coração ostente orgulhosamente (orgulhoso porque continuou, no fundo, a bater, mesmo com todas essas feridas), depois, por muitas horas de pensamentos que mais não fazem do que nos atirar para um lugar que não nos impede de existirmos, mas impossibilita-nos de vivermos... Por muitas perguntas que tenhamos feito sobre a vida, o futuro, o presente e nós próprios, por muitas conversas que tenhamos tido, por muitos minutos que tenhamos passado a recuar no tempo, a tentar perceber onde é que falhámos, o que é que poderíamos ter feito de forma diferente, porque é que não vimos determinadas coisas, ou porque é que vimos tantas outras... Por muito pesado que o nosso andar seja, e os nossos passos se arrastem pelos nossos dias eventualmente iguais, vazios, sem vida... Por muita falta de crença que levemos nas mãos, no coração e na alma... Chega-nos, à nossa vida, o dia em que, estranhamente, tudo isso muda. E aprendemos a relativizar. E vemos que de facto mesmo nos nossos dias mais vazios, temos coisas realmente bonitas. Vemos que no fundo, no fundo, até temos o mais importante e que o passado é passado e já está feito. Não o podemos alterar, por muitas viagens que façamos para todos aqueles dias que acabaram. Porque há sempre uma coisa ou outra que nos puxa de volta para o presente, como termos de acordar para mais um dia, como vermos que os lugares continuam a existir, que o sol continua a nascer no mesmo céu e as pessoas em nosso redor continuam a viver. Porque um dia acordamos e a vida obriga-nos, mais não seja através da felicidade, a vivermos no presente. E é como se lá fora existisse toda uma tempestade capaz de abalar o mundo, mas dentro de nós nascesse uma manhã de sol quente.

Das coisas simples e bonitas da amizade

Depois de um serão no Starbucks, e de dezenas de tópicos de conversa:
uma chávena de chá e algum silêncio.

True

Da verdade dos nossos sentimentos

São tão poucas as vezes em que dizemos realmente tudo aquilo que queremos dizer. E menos ainda as vezes em que tentamos fazê-lo. Ficamos eternamente presos a um silêncio que mais não faz do que criar rios sem pontes, entre nós e os outros.

Desafio

[10 coisas que gostarias de dizer a 10 pessoas diferentes]

1: Mãe, nenhuma palavra ou frase seria suficiente para dizer a alguém que representa o mundo para mim. Um mundo de dias, esses sim, perfeitos. «I carry your heart with me(I carry it in my heart)I am never without it» E. E. Cummings

2: Jorge, os dias sem ti são imensamente mais vazios e é como se chovesse continuamente dentro de mim. A única coisa que atenua a dor da tua ausência é a certeza que tenho de te ter dito ao longo de todos estes anos, tudo aquilo que significavas para mim. Se soubesse que naquela tarde ouviria a tua voz pela última vez na vida e que te perderíamos para sempre passados escassos minutos, não teria acrescentado nenhuma palavra. Tu já as sabias, dentro do teu coração.

3: Coral, obrigada por tentares tão arduamente compreender todos os recantos da minha alma. Contigo, todos os caminhos da minha vida são mais fáceis de percorrer.

4: Lourdes, conheci um céu de estrelas contigo. O maior e mais brilhante de todos.

5: João, o que distingue verdadeiramente as pessoas, não é o quanto dizem ou sentem que nos amam, mas o quanto abdicam, sacrificam e dão de si mesmas, em nome desse amor.

6: Francisco, tenho tanto orgulho em ti. Gostava que acreditasses mais na felicidade.

7: Sofia, lamento tanto que para ti uma promessa seja apenas e somente um conjunto perdido de palavras esquecidas.

8: Joana, a vida vai ensinar-te que o amor que os outros nos têm é frágil e que quando o damos por garantido, arriscamos-nos muito (tanto) a perdê-lo para sempre.

9: Teresa, por quê?

10: Sheila, sem o saberes, tornaste todos os meus dias aí menos vazios, mais felizes. Somos mais parecidas do que alguma vez possas imaginar.



Dos grandes momentos que compõem uma amizade

E a praia hoje era praticamente só nossa. Deserta para nós, para as nossas conversas e para os nossos sonhos. Um pescador via-nos ao longe, alheado das nossas mágoas e alheado das nossas alegrias. Para ele a vida era possivelmente demasiado simples e sem grandes rodeios. Para ele existia o mar, existiam as ondas, as algas e todos os peixes que colheria. Um céu como testemunha. Um coração e uma vida. Para nós existia tudo isso também. E mais ainda.

So true

Do amor

Afinal e bem vistas as coisas, não existe sentimento mais reconfortante, mais seguro, mais nobre, do que o amor. Não há nada que nos encha mais o coração, que nos remende, ainda que por segundos ou minutos, ou escassas horas, todas e quaisquer feridas do nosso coração. E aqui falo de amor, simples amor. Seja por quem for e em que medida for. E podem vir todos os sentimentos do mundo, como grandes desilusões, tristezas, alegrias ou ansiedades, que o amor sobrepõe-se a todos eles e cura-os como só o amor consegue. Pode ser uma cura momentânea ou que, logicamente, não dura para sempre, mas é uma cura que nos faz erguer mais uma vez a cabeça, quando já não nos apetecia erguer a cabeça. É uma cura que nos faz rir, quando nem uma gargalhada julgamos ser capazes de dar. O amor é capaz de nos levar aos lugares mais profundos do nosso coração e fazer-nos acreditar em coisas que de tanto acreditarmos nelas, se tornam reais. Graças não só à nossa crença, como à nossa força e luta, para que se tornem reais. E estranhamente o amor faz-nos chegar à conclusão de que não importa realmente o quanto conhecemos de nós próprios, nunca conheceremos o suficiente para sabermos, antecipadamente, até onde iríamos, tudo o que daríamos, o que seríamos capazes um dia de fazer por amor. E é esse, talvez, o maior dos mistérios acerca do amor.

Da perseverança

Passamos grande parte da nossa vida a sobreviver. Sobrevivemos aos nossos dias mais difíceis, sobrevivemos ao cansaço, à falta de esperança em dias em que deveríamos de ter esperança. Sobrevivemos às más notícias, à falta de sono, à monotonia, à apatia, ao vazio, à nostalgia. Sobrevivemos a tudo. E muitas vezes, injustamente para connosco, achamos que poderíamos estar melhor. Achamos que nada de realmente importante, especial, bom, acontece na nossa vida. Esquecemo-nos de que o facto de sobrevivermos a tanto - a sermos tão perseverantes, a não cairmos assim com tanta facilidade, a continuarmos com a cabeça tão erguida ainda, com um sorriso aqui e ali - faz de nós, de algum modo, vencedores. E se isto de sermos vencedores não poderá ser também uma razão por si só suficiente para nos sentirmos felizes, então não sei o que poderá ser mais.

Alguém disse...


"Think of all the beauty still left around you and be happy." (Anne Frank)

Crenças #6


Sentirmo-nos leves por dentro não exige muito de nós. Apenas um pouco de paciência para com as voltas e reviravoltas da vida. Um pouco de fé. De esperança. De capacidade de seguir em frente. E exige, acima de tudo, que ainda saibamos o que é sentirmo-nos vivos.

Alguém disse...


"The freedom and simple beauty is just too good to pass up..." (Christopher McCandless)

Nunca soube ao certo o porquê

... Mas emociono-me sempre muito mais com imagens como esta,
que envolvam o salvamento de animais, em desastres ou momentos dramáticos...
Não que o salvamento de pessoas não me emocione. Porque emociona.
Mas há algo de muito bonito também, no salvamento de um animal.

I ♥ a stranger's smile

Um dos acontecimentos mais simples e ao mesmo tempo mais bonitos da vida, dá-se quando um completo desconhecido sorri para nós. E normalmente nesse sorriso cabe toda uma vida que ele não nos diz nem entrega, mas permite vislumbrar.

"Today, give a stranger one of your smiles. It might be the only sunshine he sees all day."

(H. Jackson Brown)

Das memórias


Pior ou melhor, todos aprendemos a viver com as memórias. A verdade é que, sem memórias, a nossa vida ficaria estranhamente vazia, sem significado. Objectos onde uma vez recordámos alguém, lugares onde vimos alguém, seriam apenas objectos e lugares comuns a todos nós, especiais na mesma medida para todos nós e, por isso, especiais para ninguém em concreto. As memórias fazem, de uma maneira ou de outra, a nossa história de vida. Mesmo as piores memórias, ajudam-nos a compreender vezes sem conta o que nos acontece um dia mais tarde. Conseguimos acreditar até certo ponto que o melhor é termos boas memórias, mas esquecemo-nos facilmente que até as boas memórias, por serem apenas isso, memórias, também nos doem, no coração. E é por isso que, mais do que saber catalogar ou guardar memórias, temos necessariamente de saber primeiro viver com elas. E é um pouco como se todos nós possuíssemos uma caixa, onde guardamos habilmente todas as nossas memórias. Algumas a custo, outras com algum alívio. Alguns de nós limitam-se a deixar a caixa fechada, porque "What the eyes don't see, the heart doesn't feel"... E alguns de nós, porque sabem que, apesar de fechada a caixa, as memórias estão lá, precisam de saber e ver, a caixa aberta. As memórias lá. Não é tanto pelo medo de que as memórias desapareçam. Não. É pela dor que representa deixá-las longe de nós. Numa caixa. Quando queremos a todo o custo fazer delas um presente. Não podemos. Não podemos quando elas já só pertencem a um passado. E por isso acredito que talvez o melhor seja, no fundo, deixarmos a caixa fechada o máximo de tempo possível. Porque todos sabemos que, uma vez aberta, o difícil não é ver o que está lá dentro. O difícil é voltar a fechá-la.

Crenças #5

E não só. Acho mesmo que, no fundo, cada momento que nos despedaça o coração parece sempre o pior de todos. Achamos sempre que chegámos ao nosso limite. Ao fim da linha. Mas os dias vão passando e percebemos que, como aquele momento, possivelmente teremos muitos mais. E que isso só significa uma coisa realmente boa: que estamos vivos.

Alguém disse...

" A house without books is like a room without windows. "

Horace Mann

Das voltas da Vida

A nossa Vida resume-se assustadoramente a uma soma de voltas, que uns repetem mais vezes e outros menos. Dia após dia, ano após ano, repetimos sentimentos, momentos, estados de espírito, alternados apenas conforme os lugares, as pessoas e os anos de vida que temos para contar. Alegramo-nos continuamente. Desiludimo-nos mais ainda. Ficamos desgastados com as mesmas coisas, da mesma forma. Mas continuamos a dar voltas, no enorme carrossel que é a nossa vida. Podemos notar diferenças em cada volta, porque numa volta vemos alguém diferente e numa outra volta levamos outra disposição dentro do coração, mas continuamos sempre a rodar. E é um pouco como se a vida nos dissesse que só assim (sabendo previamente - graças a todas as voltas anteriores que demos - como curar feridas, como ser feliz) só assim, conseguimos tornar os momentos futuros melhores. Aprendemos a fazer as voltas na nossa vida com a cabeça mais erguida e um sorriso mais convincente nos lábios.

Uma verdade #1


Sobre raparigas e os cuidados com o cabelo.

Crenças #4


Quando não temos um céu de estrelas, para nos iluminar, para nos maravilhar, para nos lembrar que existe ainda beleza no universo, mesmo que a nossa vida esteja sem qualquer brilho, só temos de aprender a fazer o nosso próprio céu de estrelas. E a acreditar que, embora não seja o verdadeiro, o original, o que fizermos também nos vai iluminar, também nos vai maravilhar e, no fundo, lembrar que existe beleza no universo, e fomos nós que a criámos.

Das palavras


Não tenho muito para dizer, em mais um dia imperfeito. Imperfeito até à exaustão. À excepção do facto do meu coração não ser capaz hoje de mais do que entregar-se a coisas e lugares comuns. Mas antes isto... De despejar no meu blogue palavras que me pertencem, do que dedicar-me a criar múltiplas facetas em variados blogues, onde num eu estaria feliz hoje, no outro viveria na cidade dos meus sonhos e neste meu, estaria como realmente estou. Mas porque de ilusões não vivemos todos, e eu aprecio a realidade, porque é uma realidade que me pertence., escrevo apenas aqui. Julgo mesmo que sentiria falta dos meus dias imperfeitos, tragicamente trocados por dias perfeitos. Hoje foi um dia passado a tirar fotografias a detalhes na natureza, pedaços de alma que nem sempre são visíveis a olho nú, sem ser por detrás de uma objectiva. E pouco mais tenho a acrescentar... Porque não tenho também muitas palavras. No entanto não vos queria deixar apenas com uma frase. Termos poucas palavras é natural. Faz-nos humanos. Em alguns dias, claro, todos temos poucas palavras. Mas deixar sempre apenas uma frase sobre algo é como admitirmos que realmente o mundo não é suficientemente fascinante para muitas descrições. Para frases soltas existem os Biscoitos da Sorte, os pacotes de açúcar da Nicola e, por último, os Livros de Sabedoria. E essas frases, ainda assim, foram retiradas de textos e pensamentos longos. Fora isso torna-se só ridículo. É como sabermos o abecedário e julgarmo-nos merecedores do Prémio Nobel.

Hoje não tenho mais palavras. Mas só com uma frase solta, pelo menos, não vos deixo.
Tudo menos isso.

Leituras em dias imperfeitos

Clara Kramer sobreviveu para contar a sua história. A história de uma soma de dias imperfeitos.
O diário original está exposto no Museu Memorial do Holocausto, em Washington.

Da completa desilusão

Podemos entristecermo-nos com as palavras mais cruéis. Podemos sofrer as maiores injustiças. Criar feridas abertas no nosso coração. Caminhar dias e dias sem fim com dúvidas que nos atormentam. Que nos atiram para sítios inimagináveis de sofrimento. Mas para mim, nada destroça tanto por dentro, como uma grande desilusão. Uma desilusão vinda, principalmente, de alguém que nos ocupa um lugar tão grande no coração. E é como se de repente as árvores estivessem mais despidas, os campos mais desertos, as músicas com menos melodias, as palavras com menos significados. Porque o lugar no nosso coração ficou irremediavelmente com menos, muito menos, brilho. Torna-se num lugar de memórias antigas, que mais não fazem do que nos obrigarem a lembrarmo-nos de que o nosso coração, no fundo, no fundo, só nos pertence a nós. E somos nós que temos de o carregar, com mais ou com menos pesar, com mais ou com menos vontade, com mais ou com menos vida.

Pensamentos #2

Por vezes não basta

Por vezes não basta o que alguém nos quer dar. Por vezes não basta que alguém nos tente compreender. Que tente esforçar-se... Que tente lutar... Que despeje nas nossas mãos mil palavras. Não basta que tente. Por vezes não nos basta isso. Tentativas. Tentativas que, no fundo, no fundo, não nos enchem o coração.

Da simplicidade

As coisas mais simples são sempre as mais bonitas. É estranho como a vida nos ensina precisamente isso. Tudo o que é muito complexo, complicado, difícil, desgasta-nos. Faz-nos respirar com mais dificuldade. Faz-nos menos felizes. Gosto muito de coisas simples, mas acima de tudo, gosto muito de pessoas simples. Pessoas que se riem e choram quando assim tem de ser. Pessoas que não tentam ter várias máscaras, porque a essência delas lhes basta para saberem quem são.

Crenças #3


Temos sempre de proteger o que é, para nós, especial. Por todas as razões do mundo: por ser importante para nós, por ser único, porque nos embeleza a vida, porque estamos cansados de lugares e pessoas comuns.

I ♥ my Boots


Crenças #2


Existe um sentimento qualquer de segurança e calma que invariavelmente
temos sempre que vemos as mesmas coisas acontecerem nos nossos dias.

Da impossibilidade de esquecer


Vivemos a acreditar que nos habituamos com mais ou com menos dificuldade à dor, à perda. Acreditamos que o tempo cura tudo, até o que muitas vezes achamos incurável. Convencemo-nos, no fundo, que quando perdemos algo, ganhamos de outro lado. O que realmente pode ser verdade... Podemos realmente descobrir coisas diferentes que nos façam felizes, pessoas diferentes que nos preencham, mas com o tempo, com a vida, apercebemo-nos de que ficou irremediavelmente um vazio no nosso coração, uma ferida que por muito que pareça sarada, continua a sangrar por dentro. Uma ferida que, por ser no nosso coração, não é visível para as pessoas que nos rodeiam, o que leva essas pessoas a presumirem que nos curámos, pior ou melhor, mas curámos. Uma ferida que, precisamente por ser no interior do nosso coração, não é igualmente visível para nós. No entanto sentimo-la. É nossa. Faz parte de nós. Sabemos que, algures dentro do nosso corpo, do nosso coração, existe um lugar que nos dói, que nos atira para um vazio e uma nostalgia impossíveis de apagar apenas com a passagem do tempo. E aprendemos a viver com isso. Com essa pequena ou grande dor. Só isso.

☂ Há algo de...



... Tragicamente bonito e impressionante,
numa noite tempestuosa como esta.


Pensamentos #1

Dos corações bonitos


Mas depois também existem aquelas pessoas que vão conhecendo cada momento das vidas alheias, os momentos bons e os momentos menos bons, e não metem o livro daquelas vidas de lado. Muito pelo contrário. Esperam, no fundo, que aquelas vidas sejam povoadas de felicidade. Porque dá gosto ver pessoas felizes. Porque aquece o coração. Porque esperam secretamente que aquelas vidas tenham algures escrito numa página: E viveram felizes para sempre.

Das doenças incuráveis do Coração

Existem no mundo pessoas tão bonitas por dentro e por fora, que, no fundo, é por sabermos que essas pessoas existem que nos choca mais a maldade humana. Mas elas existem, as pessoas que carregam todos os dias consigo um coração doente, movido pela própria doença. Uma doença que embora não seja física, lhes consome e enfraquece o coração como se de uma morte lenta se tratasse. Essas pessoas, donas de corações dos quais os únicos batimentos cardíacos que se escutam são movidos pela maldade, pela mágoa, pela revolta que transportam consigo, não conseguem viver e, pior, sobreviver, sem atormentarem os outros. São pessoas que vêem maldade nos outros. Vêem maldade nas acções dos outros, nas palavras dos outros. Não são capazes de entender que o que elas vêem é só e exclusivamente um espelho do seu próprio mundo. Porque estas pessoas não conseguem ser livres. Não conseguem lutar pela sua felicidade. Não. Vivem fechadas em salas de espelhos, com labirintos onde a saída é difícil de ser encontrada. Em cada espelho, vêem-se a si mesmas, e julgam, na sua ignorância, que estão a ver os outros. São pessoas que não são capazes de ter uma vida que as preencha, mas são capazes de tentarem apoderar-se da vida dos outros. Porque é disso que se trata. Tentam a todo o custo apoderar-se das vidas alheias, das histórias felizes, dos momentos, das provações alheias, para que elas próprias não se sintam totalmente, irremediavelmente, vazias. Ocas. Donas de uma vida sem sentido. São pessoas que não suportam que a única coisa diferente que lhes tenha acontecido nos seus últimos dias tenha sido mudarem a hora de saída das suas casas, ou o lugar dos talheres que colocam numa mesa. Não suportam, ainda mais, saber que na vida delas seja assim e nas vidas alheias os outros encontrem o amor das suas vidas, mudem para um emprego melhor, façam a viagem dos seus sonhos, tenham filhos, casem, sejam, no fundo, felizes. Estas pessoas não suportam saber de todos esses pequenos e grandes momentos que compõem a vida dos outros, porque se sentem como leitores de um livro do qual elas queriam fazer parte. Como não fazem parte dessas vidas, a única forma que têm de viverem com isso é tentando destruir a felicidade existente nessas vidas. Até que chega o dia em que se apercebem de que não conseguem. De que aquelas vidas são tão preenchidas, são tão cheias de momentos, de sorrisos, de confiança, que elas não conseguem destruir verdadeiramente aquela felicidade. E então o que é que estas pessoas fazem? Estas pessoas não se limitam a fazer o que fazemos quando deixamos de gostar por algum motivo de um livro que lemos. Estas pessoas não colocam o livro de parte. Não põem de parte aquela vida. Não. Porque isso poderia por ventura fazer com os seus batimentos cardíacos, movidos pela maldade, parassem. Assim, para que os seus corações, mesmo doentes, continuem a bater, estas pessoas preferem acreditar que aquelas vidas não passam de fantasias, de utopias, criadas pelos outros. Ou de exageros. Ou de repetições. De divagações constantes. Porquê? Porque estas pessoas não conseguem aceitar que nas suas vidas nada de especial aconteça. Não conseguem aceitar que os outros tenham tanto para viver. Não conseguem sobretudo aceitar que os outros se sintam abençoados pelas vidas que têm, mesmo que essas vidas sejam vidas reais, com dias bons e com dias maus. Não conseguem aceitar chegarem ao fim de cada dia e verem um calendário vazio, onde nada muda. Onde os dias se repetem, vazios, doentes, iguais, como os batimentos dos seus corações.

Momentos #3

Simplicidade e calma. Preciso de pouco mais.

Da mudança de sentimentos


Quantas e quantas vezes na nossa vida nos afastámos de pessoas por motivos de dor? Porque nos magoaram, porque nos decepcionaram tanto, que deixámos de ter espaço no nosso coração para os sucessivos e repetidos pedidos de perdão de que elas precisavam, sempre que erravam. Até que chegou um dia em que decidimos afastarmo-nos. Porque sim, conseguimos perdoar, mas não sempre a mesma pessoa. Temos pena de que a história com aquela pessoa termine assim, mas temos pena sobretudo que a pessoa continue a errar sucessivamente, sem se aperceber de que nos consome o coração por inteiro e sem se preocupar que fiquemos sem espaço para que outras pessoas eventualmente o magoem também. Essas pessoas deixam-nos tão vazios, tão magoados, que irmo-nos embora das suas vidas, apesar de difícil, é muitas vezes o que nos salva. Mas depois há aquele dia em que, passado muito tempo, nos reencontramos com a pessoa. Ela surge-nos à frente, igual a si mesma. Eu sempre acreditei que quando reencontramos as pessoas que nos magoaram e pelas quais sofremos, o nosso coração diminuiria de tamanho e seríamos atirados para o passado, com todo o sofrimento de antes. Mas não. Existe pior do que isso. Existe aquele sentimento de olhar para aquela pessoa e de nos perguntarmos o que é que vimos nela um dia para que fosse importante para nós. O que é que vimos naquela pessoa que nos levou a sofrermos tanto por ela, a passarmos tantas e tantas horas a ver onde é que errámos. E ali estamos nós. A olhá-la de frente, para a pessoa. Igual como sempre foi. Mas desta vez não nos entristece. Nem alegra. Nem revolta. Nada. E é essa indiferença de sentimentos que nos provoca que dói. Afinal de contas, como é que permitimos que algumas pessoas ocupem um lugar tão importante nas nossas vidas, sem nos apercebermos da sua verdadeira natureza? Por que é que é preciso crescermos, envelhecermos, vivermos tanto, para conseguirmos um dia passar por elas na rua, conversar com elas, e ver, aí sim, que poderíamos por ventura permitir-lhes que entrassem na nossa vida, mas só o pouco e suficiente para que não nos destroçassem o coração irremediavelmente para sempre.

Momentos #2

Pequenos momentos que duram uma eternidade.

I ♥ Photography


E depois de dias de chuva

Um dia de sol

Da felicidade


Há um dia das nossas vidas em que nos apercebemos que já temos, já conquistámos, já alcançámos, o que nos faz felizes. É um dia específico, em que acordamos e estamos mais leves. O céu parece-nos indubitavelmente mais bonito, mais claro, mais azul. Sorrimos com mais facilidade para os nossos conhecidos e (o que é realmente mais especial) sorrimos com mais facilidade para os nossos desconhecidos. As pessoas que se cruzam na nossa vida, uns dias mais felizes, outros dias mais tristes. Partilhamos todos algumas fraquezas e alguma força. Mas no fundo, no fundo, a grande (grande) maioria das pessoas não conquista a felicidade. E a felicidade não é necessariamente acordarmos felizes todos os dias. Não. Conquistar a felicidade é acordamos todos os dias da nossa vida com a certeza absoluta que aconteça o que acontecer naquele dia, temos várias coisas na nossa vida que nos fazem felizes e que essas coisas bastarão para que suportemos melhor tudo o que de mal possa acontecer. Isso é felicidade. É sermos felizes. Com o que somos, com o que temos e com o que conquistámos. Infelizmente, há pessoas, que podem ser ou não essas que se cruzam connosco nos nossos dias invariavelmente iguais e rotineiros, que nesse dia, no dia em que conquistámos a felicidade, parecem incomodadas. Magoadas até, com a nossa felicidade. Esquecem-se de que continuamos a ter os nossos problemas. Esquecem-se que também nós já estivémos onde elas estão, em dias difíceis e sem grandes esperanças. Esquecem-se inclusivamente que possivelmente elas também chegarão ao dia em que se irão sentir felizes. E a pergunta é porquê. Por que é que se sentem tão revoltadas e magoadas, justificando todos os actos e mais alguns contra nós, para tentarem destruir a nossa felicidade? Por que é que o mais importante para elas é despedaçarem a nossa felicidade, em vez de lutarem pela delas?

"How often people change
No two remain the same...
These are things that I don't understand."
Things I don't Understand - Coldplay ♫

Lugares #3


Em Viena descobri que mesmo quando achamos que o nosso coração está totalmente despedaçado em várias partes, sobra sempre um espaço intacto à espera de dias melhores.

Da atenção


De todos os comentários em blogues que leio, vou-me apercebendo que existem os comentários cheios de luz, com palavras que fazem sentido, com uma frase acerca de cada texto postado, com uma mensagem, com uma pequena nota. Coisas particulares. Que fazem sentido. E depois existem os comentários estereotipados, iguais a si mesmos, que surgem em vários blogues diferentes, onde nem uma vírgula do comentário sai do seu sítio. O comentário usualmente é composto por um elogio ao blogue (que no fundo, por se repetir igual em dezenas de blogues, não é elogio nenhum) e um pedido para que visitem o blogue da pessoa que comentou. Hoje em dia há pessoas que vivem cada vez mais assim. Numa cultura de faz de conta, de facilitismos. Para quê perderem tempo das suas vidas a lerem o que outras pessoas escrevem? Pessoas essas por quem não foi perdido tempo nenhum, apenas os escassos segundos de copiar e colar um comentário e a quem, no fundo, lhes é pedido que percam o seu tempo. Isn't it ironic? E isto é apenas um reflexo do que acontece cada vez mais na vida real: há pessoas que, mesmo pertencendo à nossa vida, passam por nós, vêem-nos. Olham-nos para a cara, mas nunca perdem um segundo das suas vidas a olharem-nos para o coração.

***


Da maldade


Há pessoas que não pedem mais da vida do que terem a habilidade de entristecer os outros. Ou destruir, pedaço a pedaço, a felicidade alheia, porque, no fundo, a luz que vem das vidas dos outros incomoda-as, na sua escuridão. Incomoda-as existirem pessoas longe, em alguma parte do mundo, que vivem felizes... Que têm dias felizes, replectos de luz. E em casos mais comuns, incomoda-as existirem pessoas tão perto que vivem assim. Como se costuma dizer, "longe da vista, longe do coração"... Há cada vez menos pessoas que vislumbram um raio de luz na vida de outra pessoa e se sentem verdadeiramente felizes por aquele raio de luz na vida daquela pessoa. A maioria das pessoas podem, indiscutivelmente, não o tentar apagar, mas não se sentem verdadeiramente felizes por ele. Porque não brilhou na direcção daquelas pessoas. Porque está longe. Porque possivelmente como aquele não virá outro tão depressa. Porque fez alguém sorrir. Porque as faz lembrar que elas continuam na escuridão. E é assim que conseguimos ver a natureza de cada pessoa. As que vivem na escuridão por algum motivo e se sentem felizes por existirem pessoas que vivem fora dessa escuridão... E as pessoas que vivem na escuridão e julgam, no seu egocentrismo, que todo o restante mundo, todas as pessoas, deveriam igualmente viver na escuridão. Os esforços que fazem para que os outros não sejam felizes podem ser poucos ou muitos... Mas e os esforços que fazem para elas próprias sairem da escuridão? Nenhuns.

Music #3


"The ocean makes my swaling heart feel small.
There's a breeze in the air,
There's a boat ankered out here,
There's a calm under the waves as I choose to sink..."
Maria Mena - Calm Under The Waves

Da coragem

Vivemos sempre presos a um medo comum, o de arriscar muito e perder tudo. Vivemos assim porque é muito mais seguro, para nós e para os nossos sonhos. Falta-nos a coragem para tentar mais, para fechar os olhos à beira de um abismo. Falta-nos a coragem para vermos mais além, ouvirmos mais e aprendermos o que nos falta aprender com a vida. Porque vivemos quase sempre numa crença por vezes infundada de que quanto mais vivermos, mais facilmente podemos cair e, no limite, sofrer. Nesta falta de coragem achamos que estamos mais seguros, enchemo-nos de certezas. Preferimos invariavelmente as certezas à incerteza. E nem nos lembramos, tão pouco, que pomos de parte todas as possibilidades de conseguirmos ser mais felizes.

Lugares #2

Em Londres aprendi que nós somos responsáveis por proteger os nossos sonhos.