Sempre achei que a grande maioria das pessoas, se não todas mesmo, por muito que sorrissem, por muito que andassem a apregoar felicidade eterna, suprema, deslumbrante, carregavam dentro delas mesmas um enorme mundo de preocupações, tristezas, perdas e cansaço, sobretudo cansaço. Já dizia Fernando Pessoa: « O que há em mim é sobretudo cansaço / Não disto nem daquilo, / Nem sequer de tudo ou de nada: / Cansaço assim mesmo, ele mesmo, / Cansaço. » e cada vez mais me apercebo do quão certo Pessoa estava. Às vezes não há nada que nos faça desmoronar com tanta rapidez e precisão, como o cansaço. Atingimos o nosso limite, o nosso "humanamente possível" (que, por nos esquecermos que varia de pessoa para pessoa, nem nos damos ao trabalho de pensar até onde será o nosso e se já lá chegámos). Vamos vivendo assim, dia após dia, aguentando uns dias melhor, outros dias pior. Porque realmente há dias que nos correm maravilhosamente bem. Sim, há. Existem. Graças a eles mantemo-nos de pé, sempre achei. Os dias muito bons servem para nos piores momentos, nos lembrarmos que conseguimos ser felizes. Servem para isso, tão simplesmente. Talvez para nos darem mais sorrisos, mais rugas, que até são bem vindas nesse caso. Tudo em nome da felicidade.
Mas temos alguma tendência para nos viciarmos em ir aguentando. Até que chegamos a um dia em que paramos tudo o que estamos a fazer, olhamos à nossa volta e queremos hibernar paz. Precisamos de mais do que minutos para nós. Precisamos de horas. Para pensar. Para parar. Para nos lembrarmos do que é sentirmo-nos bem. E esse sentimento eventualmente chega. Se o deixarmos vir. O problema está quando pensamos que não podemos parar. "Parar, como? Tenho trezentas e setenta e oito coisas para fazer hoje, já para não falar no facto de o tempo não parar e o jantar, e o trabalho, e ir ao super mercado, e o carro, e preparar tudo.
Normalmente isto acaba numa coisa: em comerçarmos a chorar um dia sem razão nenhuma e desejarmos que ninguém nos pergunte porque é que estamos tristes, para não termos de responder um tão vago e ridículo verdadeiro "não sei..."
E era tão mais fácil se nos obrigássemos a parar. Uma hora num dia. Duas horas no outro. Três no seguinte. Quem sabe se no fim da semana já não estaríamos novamente bem. Novamente felizes. Novamente em paz. Resulta. Isso garanto.
8 comentários:
Resulta sim. Também paro. Se bem que por vezes também desato a chorar por tudo e por nada. Mas ninguém me pergunta o porque choro porque eu, normalmente, não choro perto de pessoas. Mas isso não vem ao caso. Adorei este post. Lindo! Como sempre. Está maravilhoso.
Gostei do teu blog. É bem verdade o que escreveste!
Gostei muito deste texto.
Cá em casa fazia bem a muita gente (incluindo eu) ler isto, seguir isto, passar a pensar assim. Mas isto é na teoria, na prática nem sempre conseguimos seguir este tipo de pensamentos. E acabamos por ganhar mais rugas não por sorrir (as tais rugas que são bem vindas), mas por estarmos sempre cansados. E essas rugas são mais feias, são piores.
Adorei o teu texto!
Talvez neste momento esteja a precisar de parar e ter algum tempo para mim, porque o deixar andar não é solução. Sinto que o meu limite está próximo e qualquer momento começo mesmo a chorar... e desabo.
Beijinhos
Ai como eu gostei deste texto! Assino cada ideia, nem sem por onde começar a comentar. Conheço algumas pessoas assim, daquelas que está sempre tudo pra lá das nuvens mas no fundo ali o que está é um vazio enorme, e tenho pena.
Parar devia ser obrigatório para todos, nem que seja 5 minutos. Quando falo nisto penso sempre nos mussulmanos que tem de rezar 5 vezes por dia e acho sempre que é uma boa maneira da religião fazer alguma coisa boa por nós porque nem que seja para recitar uma oração qualquer, essa prática obriga-nos a planear o nosso dia à volta dos parões que temos de fazer e não arranjar momentos para parar num dia que já está planeado.
Beijinho!
tão verdade, que até custa ler.
descobri agora o blog, gostei muito do que li, vou voltar ;)
beijito
Vim ao teu blogue pela 1ª vez, li este post e pensei: tenho de comentar!
Escreves tão bemmm :) enviei-te um email, espero que não te importes. beijinho
É que é mesmo assim...
Bjos e boa semana*
Enviar um comentário