Surreal

Quando entrei naquela mercearia, não reparei logo no que viria a ser notório durante o tempo todo que lá passei dentro. Não reparei que, por exemplo, nas prateleiras dos cereais as caixas de cereais eram, talvez, seis. Nem reparei que só existia um pacote de leite à venda. Nem tão pouco reparei que a variedade de bolachas à venda era igual a dois tipos de bolachas: as bolachas de limão (muito na moda há uns bons anos atrás) e umas de chocolate negro. Nem reparei que, por exemplo, latas de refrigerantes, ali, não existiam. Garrafas de refrigerantes, só mesmo duas marcas mais famosas. Sendo que o resto eram mesmo garrafas de água. Não reparei que só existiam dois pacotes de guardanapos, uns dez (na melhor das hipóteses) sabonetes e que os productos de higiene se contavam pelos dedos das mãos. Só reparei nisto tudo quando andava lá à procura (em vão) do que queria ir lá comprar. Tive de voltar para trás, sob o olhar penoso da senhora da caixa registadora, que era uma pessoa com cerca de sessenta e muitos anos e via-se, adorava trabalhar ali naquela mercearia. Sinceramente tive duas sensações, quando saí dali:
1- Tinha estado numa mercearia de uma aldeia onde só existem casas de pedra e um rio.
2- Tinha estado numa mercearia que parecia ter sido atingida por uma desgraça à escala mundial, justificando assim a falta de alimentos.

4 comentários:

Joana disse...

eu gosto das mercearias de bairro :)

XS disse...

E ter um rio já é um luxo!

josépacheco disse...

pois também eu gosto muito das mercearias de bairro, como diz a ju. mas aí é que está o problema: quando defendemos romanticamente o pequeno comércio tendemos sempre a esquecer esse lado: dois sumos, seis caixas de cereais, pouca coisa, pouca coisa. às vezes as coisas de que gostamos são tão insuficientes, não é? muitos parabéns pelo blogue, que acabei de descobrir.

Jorge disse...

Eu já estive numa mercearia desse género em que alguns produtos tinham nas etiquetas o preço em ESCUDOS. How fun is that?