Vamos lá ver umas coisas


Se ouvirmos falar de alguém que vai para um estádio de futebol e dispara um foguete e esse foguete, por azar, desfaz a cara de uma criança na multidão, o que sentimos em relação à pessoa que lançou o foguete?

Acredito que haja quem sinta pena por essa pessoa, pois sem querer "não imaginava que o foguete seria perigoso" acertasse logo numa criança. Mas não sei porquê vou mais pela opinião de que a maioria das pessoas ficaria revoltada e mandava a pessoa ter enfiado o foguete aceso em certos sítios.

Quando ouvimos falar de miúdos que humilham outros e em casos extremos, levam os outros ao suicídio o que é que pensamos? Temos pena, porque não sabiam que ao humilhar podiam mexer assim tanto com a vida de outra pessoa? Não me parece.

Quando ouvimos falar de pessoas que andam a altas velocidades e atropelam quem quer que tenha o infeliz azar de se atravessar no seu caminho, sentimos pena da pessoa que atropelou, porque, coitada, não imaginava que pudesse atropelar alguém? Não me parece.

Quando ouvimos falar de um agressor sexual que vive perto de escolas primárias e, não conseguindo controlar-se, abusa de uma criança, sentimos pena, porque coitado, afinal de contas, vive ali perto e não pode andar de palas nos olhos? Não me parece que muitas pessoas sintam isso.

Então, quando ouvimos falar de um rapaz (seja ele quem for, actor, cantor, varredor de ruas, vendedor de automóveis, gerente de uma loja, ajudante no Zoo, whatever) que vai num carro a alta velocidade, (vamos esquecer a parte do cinto, que se ele não levava, o factor "correr risco de vida" só a ele lhe dizia respeito) e, por um azar, tem um acidente (note-se: tem um acidente que podia ser evitado se não fosse a abrir à maluca) sentimos pena do rapaz? Sentimos pena do rapaz que, no meio daquela brincadeira pegada, podia ter matado, como diz a Ju e bem no seu post, uma família inocente que não fazia a mínima ideia que, ao sair de casa naquele dia, ia morrer porque um rapaz algures no mundo se lembrou de ir a abrir pela estrada? é óbvio que ninguém desejava mal ao rapaz. É óbvio que todos (acho eu?) preferíamos que ele não tivesse tido o acidente e que estivesse bem, a aproveitar a sua fama e a ser feliz da maneira que sabia. mas já agora...

Ninguém fala do condutor que, sem querer, atropelou o outro rapaz que seguia no carro do Angélico? Aquela pessoa não tinha culpa absolutamente nenhuma. E vai carregar isso para o resto da vida.

É este o problema das acções. As pessoas quando agem mal, arrastam outras pessoas. É inevitável. E dramático.