Se olharmos à nossa volta, se recordarmos todas as pessoas que um dia conhecemos e que fizeram parte dos nossos dias, notamos à distância as pessoas que não foram ou não são capazes de viver a sua própria vida. São pessoas que, pela ausência de acontecimentos grandiosos nas suas vidas, se tornam meros espectadores ou críticos das vidas dos outros. Porque nada de especial lhes acontece. Porque nada de verdadeiramente importante traz vida aos seus dias. Este tipo de pessoas vivem, assim, à custa de vidas que não lhes pertencem e se para nós é relativamente fácil detectarmos estas pessoas no nosso quotidiano, na blogosfera é ainda mais fácil. São invariavelmente (salvo uma ou duas excepções) pessoas que criam habitualmente blogues centrados em blogues de outras pessoas. São pessoas que escrevem sobre os outros, os posts dos outros, as vidas dos outros, os gostos dos outros, as pessoas que pertencem à vida dos outros, a escrita dos outros, os desejos dos outros, as frustrações dos outros, os sonhos dos outros. Em suma, são pessoas que, por não terem nada verdadeiramente especial com que lhes valha a pena ocuparem-se, vivem o seu dia-à-dia para analisarem, até à exaustão, palavra a palavra, frase a frase, post a post, as vidas dos outros. E isto enche-me de pena. Dá-me realmente pena saber que existem pessoas no mundo para as quais a vida é pouco mais do que olhar para o lado, para a vida do lado, para a pessoa do lado. Estas pessoas são pessoas que são tão vazias por dentro que, para preencherem esse vazio, para preencherem as suas vidas, precisam de tentar destruir, na sua própria cabeça, a felicidade dos outros. Mais não seja criticando-os. Porque não suportam que alguém encontre o amor da sua vida e deixe de querer escrever tanto no seu blogue. Ai escreve sobre tantas coisas? É porque inventa. Ai deixou de escrever tanto? E quem é que lhe deu autorização? Não suportam que um nascimento traga felicidade, amor e concretização de vida a alguém. Ai teve um filho e está muito feliz com isso como e porquê? Não suportam que alguém fale muito de um assunto porque para si é importante. Não suportam que alguém fale muito de um assunto porque quer falar do assunto. Ou só porque sim. Não suportam que alguém case e seja feliz. Ai casou e agora é feliz? Mas quem é que permitiu isto? Nem que alguém tenha amigos para os quais é realmente importante. Ai são muito amigas e têm blogues? Se calhar são a mesma pessoa. Estas pessoas não suportam que as vidas dos outros sejam preenchidas. Porque suportar isso era para elas aperceberem-se do enorme vazio das suas vidas. Da total e completa falta de sentido. E escreveriam sobre o quê? Sobre o vazio que sentiam? Não. Assim é-lhes extremamente mais fácil. Escrevem sobre as vidas dos outros. Invariavelmente tentando criticar cada pequeno e grande aspecto dessas vidas. Felizmente um dia irão olhar para trás e perceber que andaram a perder tanto tempo de vida, energia e cabeça, com a vida de outro alguém. E que isso em nada contribuiu para a felicidade delas. Pior (ou melhor, conforme a perspectiva): vão perceber também que os outros viveram a vida deles e que não a deixaram de viver só porque alguém se lembrou de ter como principal objectivo de existência humana viver vidas alheias.
Por isso e explicando preto no branco e claramente para todo o sempre:
E assim esclarecidos ficamos todos em paz.