Não me lembro de ter visto em nenhum país (e eu, admito, até já tive o privilégio de viajar bastante e inclusivamente viver noutros países) de ver à venda em várias livrarias de renome, livros que têm como título este, por exemplo, e como capa, esta, por exemplo: Maníacos de Qualidade.
Acho de um tremendo mau gosto (já para não falar numa falta de respeito) apelidar os tais (pelo que vem descrito na capa) "portugueses célebres", de maníacos, ainda que, vá, de qualidade.
Apelidar um dos melhores poetas de toda a História da Humanidade de maníaco, sendo ele português e sendo ele uma das poucas pessoas que me fazem amar Portugal, é só rídiculo. Mais: é não conhecer de todo (nem muito, nem pouco, nem nada) a obra de Fernando Pessoa. É não ter respeito pelo poeta e pelo receio que Pessoa teve em vida de um dia ser visto, por exemplo, como alguém que chegasse à loucura.
É passar por cima de toda uma obra e de toda uma personalidade e apelida-la de maníaca. Mas o caso não fica por aqui. Juntamente com Fernando Pessoa, a lista de portugueses que se destacaram e que, por serem brilhantes, merecem o estatuto de maníacos (esperam lá que isto ainda é melhor que o Nobel) tem também D. Afonso VI, Marquês de Pombal, Antero de Quental, entre outros.
Vamos tentar perceber isto: uma coisa é dizer que as pessoas têm qualquer tipo de problema psicológico, outra completamente diferente é apelidá-las de maníacas.
Para uma Psicóloga Clínica, há alguém que não foi estudar bem as definições de maníaco, antes de a esparramar num título. Maníaco: pessoa com delírios maníacos ou possuída por manias.
Onde é que esta definição encaixa na alegada bipolaridade (who knows? Ninguém entrevistou Antero de Quental e consta que os relatórios psicológicos clínicos devem ser feitos também com a análise presencial da pessoa, mas... A autora, apesar de não o ter conhecido, diz que sim, que ele é bipolar) de Antero de Quental?
O problema é simples e há que pôr os pontos nos i: o título, ainda que macabro e desrespeitoso, foi posto para, voilà, vender. Vender, ora aí está. Vale tudo, menos ter moral.